26 de junho de 2012

Ela já estava em paz...

Há muito tempo atrás conheci uma pessoa, não muito, como se diz? De boa conduta. Havia chegado de mudança para aquele bairro e estávamos fazendo uma pequena reforma na casa antes de nos mudar e íamos até lá nos fins de semana fazer faxina e pintar a casa, adorei pintar as paredes, pois acredito que renova o ambiente e tudo de negativo se vai e paz e harmonia começa a transparecer na casa. Muitas coisas em minha vida naquela época não estavam lá essas coisas e estava em transformação, minha cabeça dava mil voltas e descobrindo coisas que iriam mudar minha vida e maneira de pensar, não que fosse uma doida compulsiva e sim por enxergar pequeno quanto a minha pessoa. Varias pessoas foram fundamentais para esta grande mudança e com esta pessoa mencionada acima aprendi o valor da amizade sincera. Bom deixe-me apresentar minha visinha seu nome é Lurdes, 47 anos, separada, três filhos (um de cada pai) e uma grande amiga minha. Quando ia lá aos fins de semana, ela sempre nos cumprimentava com um lindo sorriso, os outros vizinhos não. Logo nos mudamos e ficamos só no bom dia e boa tarde, sempre com pressa, trabalhávamos muito e eu tinha folga uma vez por semana, então era tudo muito corrido. Então chegou um dia que pedi férias e resolvi dar um jeito no jardim o qual adorava mexer na terra, para minha pessoa era energia pura. Foi ai que ela chegando do trabalho estranhou eu em casa e chegou até o muro para conversarmos, eu com certo receio, pois a esposa do senhor que fazia pequenos consertos nas casas, havia me dito que era para me cuidar com aquela mulher, ela era uma pessoa com uma reputação não muito boa. Ficamos conversando por horas e por fim a convidei que viesse no outro dia com mais tempo para ver como ficou minha pintura na casa. Então logo depois do trabalho ela foi até em casa, ficou impressionada com a pintura e mais ainda com meus trabalhos de crochê, fiz todos os tapetes e cortinas e nos sentamos e a conversa se estendeu, ela me contou tudo sobre sua vida e não consegui segurar as lágrimas, ela me confiou toda sua historia, muito triste por sinal, o mais desesperador foi seu filhinho de quatro anos morrer afogado atrás de sua casa, passava um ribeirão nos fundo de nossos terrenos e em um momento de descuido o menino desapareceu e quando o acharam já estava sem vida e ela se culpava por isso. Fiquei sem voz e chorei com ela, claro que o fato foi muito triste, mais triste para minha pessoa foi ela se sentir sozinha e não poder colocar tudo isso para fora e mais ainda ser enganada, surrada e pisoteada pelo ex-marido e a família, ninguém para dizer a ela que não era culpa dela, que não tem com o que se culpar que o menino teve um tempo nesta vida e que sua hora era aquela, que a morte sempre vem com uma desculpa do “se” e ela passou um bom tempo de sua vida vegetando, se estragando, se prejudicando por causa de um “se”, se eu tivesse prestado atenção, se eu não tivesse tirado os olhos dele, se eu não tivesse me separado e por ai vão os “sés” desta mulher e sua família, amigos e parentes a julgaram , a condenaram e a deixaram ficar em uma prisão por anos e anos. Daquele dia em diante ficamos amigas e eu insistindo para que ela se se perdoar, não por ter se descuidado do filho e sim por ter se prejudicado por anos e tenho certeza que seu filho não iria gostar de saber que sua mãe se acabou por causa de sua morte, o mal é que todos pensar que a morte é o fim de tudo, tem medo até em falar a palavra morte e não é o fim, podemos ficar triste, sentir saudades, mas o mais principal é deixar o espírito descansar e conseguir seguir mais uma etapa de sua existência. Deixe-o ir, disse a ela e mais tarde ela deixou. Minha filhota tinha cinco anos e apaixonou-se pela Lurdes, meu neto morria de medo dela, mas quando ia até a janela ficava chamando-a e quando ela aparecia ele corria. Lurdiiii era como ela a chamava.
Uns anos depois tive uns contratempos e acabei separando-me de meu marido, fiquei arrasada, três dias e três noites sem comer, me levantar ou até tomar banho, me olhava em um buraco e sem forças para sair de lá, não sabia se minha filhinha estava comendo ou que horas estava indo dormir, entrei em uma depressão, mas todo aquele sofrimento era preciso, pois do modo que estava vivendo não era vida.Não tinha vida própria vivia em função de outra pessoa, já nem sabia mais quem era. E ela estava lá ao meu lado, não dizia palavra alguma, levava minha filha para comer, dava banho, trazia de volta a colocava na cama e ficava um bom tempo sentada me olhando e sentia- me bem quando ela estava ali perto. Havia pegado férias para dar um fim a esta vida e tomei uma atitude, mas sofri muito com a decisão, claro que me ergui, tomei um longo banho e resolvi voltar a viver, pois pensei em minhas filhas e meu neto. Fiz um ano de terapia e eu mesma me dei alta, já me sentia mais forte, só um exemplo de algo que descobri, eu nunca gostei de vinho seco, mas por ele gostar eu também gostava, descobri que estava vivendo a vida dele e não a minha e me amei pela decisão que havia tomado e cresci e ainda estou crescendo.Ela sempre esteve comigo, nas horas boas e as ruins, como recaída nos choros e isso durou um ano e meio, então conheci o Vilson, o presente que Deus deu-me a pedido meu é claro, mas esta é outra historia que já descrevi em outro post.


A Lurdes foi uma grande amiga, uma irmã, uma tia, um anjo, apesar de sua vida desregrada que não tinha nada a ver com a minha, ela foi uma grande amiga e muito valorosa para minha pessoa, ela sempre me escutava e como eu ela tinha mudado muito seu comportamento, já não saia tanto e aprendera a se valorizar como mulher, ela dava-me liberdade para conversarmos e nunca ficamos aborrecidas uma com a outra, o mesmo carinho que tive por ela, meu Vilsinho também teve e nunca ela me desrespeitou se comportava dignamente, como uma verdadeira amiga.


Muitos me criticaram por ter amizade com ela e minhas filhas a amavam como se fosse da família. Rimos muito, choramos juntas e hoje ela não se encontra mais conosco, em um acidente gravíssimo ela se foi, acredito que foi se encontrar com seu bebe, ela nunca fez mal a ninguém, viveu sua vida como o mundo a obrigou a viver lhe virando as costas, ela estava bem e havia encontrado uma pessoa especial que a amava, mas foi bem curta este momento em sua vida. Com certeza ela tem alguém que sente muitas saudades dela e que a amava como uma irmã. Não fui em seu velório, todos os irmãos dela foram e sua mãe também, os que nunca a visitavam, os que nunca sentiram compaixão pela sua dor e agora estão lá chorando, não quero julgar, mas isso me afeta muito, apesar de sempre tentar entender, sou humana e este comportamento me enoja de ficar chorando sobre um corpo que precisava tanto de carinho enquanto estava entre nós. Talvez seja remorso por não terem feito nada por ela, pena que eles não saibam que ela há muito tempo deixou de sentir quaisquer sentimentos para com eles, ela estava mesmo empenhada em ser feliz, pois sua dor foi amenizada e ela se perdoou. Ela estava em paz ... 


Maria de Lourdes Fogolari 

Vai com Deus meu amor, minha amiga querida... Eu te amo...