5 de janeiro de 2012

Boa noite na paz de Deus

Achei muito fofo e verdadeiro este selinho.... amei e compartilho com meus queridos amigos e visitantes....

            

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A galinha "dedo-duro"

Quando tinha seis anos de idade fui morar com meus avôs, não queria de jeito algum, pois queria ficar com minha mãe, mas não foi possível. Mas com o tempo acostumei muito bem sem sua presença. Morava em um sitio que pertencia a meu avô, cresci em meio a cavalos, vacas, galinhas, porcos, foi uma infância muito feliz, apesar da saudade que tinha dos meus irmãos. 

Meu avô plantava fumo e vendia para a Souza Cruz, eram campos e morros enormes cheio de fumo plantado. No lugar onde morávamos todos se ajudavam, cada família plantava alguma coisa, era fumo, mandioca, cana de açúcar. Cada plantação tinha sua época de colheita e quando era época de alguma plantação os vizinhos se reunião para ajudar. 

Eu simplesmente adorava quando chegava nossa vez de colher, pois o sitio ficava cheio, as mulheres faziam guloseimas, os homens iam para a roça e as crianças ficavam brincando no terreiro. A noite havia o serão onde todos ajudavam a amarrar o fumo para secar nas estufas, até as crianças faziam isso, mais tarde a própria Souza Cruz proibiu as crianças de fazerem isso. 

Nestes serões o que mais gostava eram dos causos que as pessoas mais velhas contavam, das lendas do local, era da mula sem cabeça, lobisomem, caipora e outras tantas. Mas uma que não esqueço foi da galinha dedo duro, há essa eu adorava. 

Meu avô que contava para ensinar o quanto era feio roubar e mentir, sempre quando fazíamos alguma coisa errada, ele sempre tinha uma historia para contar como exemplo e dava certo. Eu era a única criança na casa, mas tinha os filhos dos empregados do meu avô que iam brincar com minha pessoinha, ai era aquela bagunça e quando ele não aguentava mais tanta baderna nos chamava e começava a contar seus causos. 

O que escreverei aqui é um causo que meu avô contou-me, não sei de quem pertence, só sei que era assim: 

Em uma cidade de interior existia um homem sem escrúpulos, chamado Zé das foices, vivia de casa em casa com uma foice nas costas pedindo para capinar o terreiro a modo de conseguir uns traçados. O Zé das Foices tinha defeitos horríveis era mentiroso e ladrão, mas ninguém tinha como provar que ele era ladrão. Em todos os lugares que ele frequentava sumia alguma coisa. 

Quando chegou a época da safra do fumo, o Zé correu até o sitio do seu João e se prontificou a ajudar na colheita, disse que por um prato de comida colheria o campo inteiro. Seu João pensou, mas não teve jeito teve que aceitar a proposta do Zé já que a mão de obra estava escassa. 

No dia da colheita foi uma beleza, ocorreu tudo tranqüilo, nem o Zé incomodou trabalhou direitinho. 

Quando a noite chegou todas as folhas já estavam no celeiro para serem amarradas e todos se empenharam em amarrá-las e terminarem logo o trabalho. O serão se estendeu a noite toda, lá por umas horas da madrugada o senhor Benedito berrou dizendo que tinha sido roubado, seu relógio que fora herança de seu pai, tinha sido surrupiada de seu casaco que ele havia deixado pendurado em um prego na parede do celeiro. Foi aquela confusão, claro que a maioria dos presentes já imaginava quem teria sido o larapio, mas como provar. Foi ai que seu João teve uma grande ideia e se dirigiu ao meio do celeiro e falou: “Ganhei recentemente uma galinha de um viajante em troca de uma pousada, ele me falou que era uma galinha diferente ela conhecia um mentiroso quando esse passava sua mão em suas penas, quando isso acontece ela cacareja.” 

Começou um murmúrio entre os presentes e todos ficaram assustados, mas como isso uma galinha que conhece um mentiroso, como seu João tinha uma reputação incontestável, ninguém ousou duvidar de sua palavra. 

Seu João decidiu que usassem esta galinha para conhecer o ladrão do relógio e ficou decidido assim: seu João sentaria em uma cadeira em um canto escolhido por ele e o pessoal iria fazer uma fila para um por um passar a palma da mão nas penas da galinha. Assim foi feito seu João escolheu um canto mais escuro e pegou a galinha e se sentou esperando as pessoas se organizarem. 

A primeira pessoa foi até a galinha passou a mão na pena e nada da galinha cacarejar e o Zé dizia que queria ser o ultimo, estava planejando fugir, mas seu João havia coloca dos de seus capatazes cuidando da porta para ninguém sair. Na verdade seu João tinha certeza de que fora o Zé, mas ele nunca admitiria confessar o crime. 

Com a fila já terminando e nada da galinha cacarejar o Zé resolveu ir logo passar a mão naquela galinha fofoqueira. Chegando sua vez entrou na escuridão e logo saiu sem que a galinha cacarejasse, ele saiu todo satisfeito cheio da razão e o povo esperando que quando o Zé passasse a mão na galinha e que ela cacarejasse, ficaram decepcionados com seu João. A galinha seria uma fraude? Seu João seria o enganado? E todos começaram a gritar dizendo que a galinha era uma galinha como outra qualquer e ao meio daquele alvoroço seu João deu um berro pedindo silencio. Todos ficaram quietos e esperando seu João falar. Ele pediu para que todos fizessem novamente uma fila, mas que dessa vez um do lado do outro com o braço estendidos com a palma da mão para cima. A qual foi à surpresa de todos quando olharam para suas mãos, elas estavam todas sujas de graxa, menos do Zé, sua mão estava limpinha. 

Seu João explicou que a galinha não era encantada que aquilo seria só um teste para saber quem realmente era o ladrão, quando ele havia saído para buscar a galinha, passou graxa em suas penas e como o Zé ficou com medo que a galinha o denunciasse fez de conta que pegou em suas penas, por isso suas mãos ficaram limpinhas, os demais estava com a consciência limpa por isso não tiveram receio por passar a mão na galinha e ali então descobriram o mentiroso. 

Gostaram? Há, nos também queríamos saber o que tinha acontecido com o Zé, mas meu avô disse que o causo tinha terminado ali quando seu pai lhe narrou, mas seria para mostrar o quão vergonhoso é roubar e mentir.