Por: Ana Gabriela
Por onde andei enquanto estive fora da cama na madrugada anterior, me perguntavam naquela manhã de quarta-feira. Deixei as perguntas em branco, como se fossem retóricas, mas não propositalmente e sim pelo fato de não saber as respostas.
Eu sempre gostei de ouvir histórias sobre meu problema de
sonambulismo, costumavam ser engraçadas e aquele dia ninguém tinha nada tão
plausível a me contar. O pouco que podiam relatar-me era que por nenhum motivo
que pudesse explicar Madame Lúcia acordou assustada e sentiu necessidade de me
ver antes de voltar a se deitar, mas em meu quarto não me encontrou.
Pensou consigo que eu devia estar dormindo em pé em algum cômodo da casa, pôs-se a me procurar só que eu não estava em lugar algum, começou a me procurar em desespero por tudo, já me acharam escondida atrás dos móveis, mas não adiantou de nada.
Quando voltou para checar meu quarto eu estava deitada,
aparentemente adormecida, a janela batia e o vento uivava agitando as cortinas.
Até agora me pergunto por que eu teria aberto a janela?
(...)
Sentei no jardim, a tarde estava bonita, como de costume
tentei escrever um pouco, tinha um mistério e ideias ótimas para uma pequena
história do que poderia significar os acontecimentos da noite. Engraçado, nada
do que eu escrevia ficava realmente bom pra mim, passei o resto do dia
escrevendo e reescrevendo tentativas de fazer eu própria me impressionar, as
ótimas ideias não pareciam tão boas no papel. De repente eu percebi que tudo o
que eu estava pensando e escrevendo podia realmente ter acontecido, eu poderia
ter saído de casa pela janela, poderia ter andado na rua, ido em lugares que
nem podia imaginar. Isso era o que sempre me preocupou, não só a mim, mas a
todos da mansão. Lembrei, eu tinha feito, sim, tinha feito uma carta para meu
anjo protetor, eu sempre fazia isso quando sentia um medo grande e fiz isso no
dia que escutei Madame Lúcia comentando com os demais que eu teria tentado
abrir a porta e sair por ai noite adentro, de tão preocupada ela todas as
noites tirava a chave da fechadura.
A carta:
"Querido Anjo, será que podes tomar conta de mim a
noite, para que nada de ruim possa acontecer que meu corpo não faça o que minha
mente saiba que não é seguro. Controle-me. Antes que eu vá até o perigo me leve
com você, me leve até a sua morada."
Procurei a carta entre muitas guardadas na tábua solta atrás
da escrivaninha, muitas coisas pessoais eu escondia lá. Quando a encontrei meu
coração não conseguia se decidir entre sentir o alivio ou a apreensão, mas ele
bateu tão forte que eu conseguiria senti-lo em todas as partes do meu corpo.
Estava lá, em letras brilhantemente douradas.
A resposta:
"Espero que goste de andar nas nuvens".
Ana Gabriela |